Íctio ou doença dos pontos brancos. O que é e como tratar?
Se você está observando seu peixe e notou o aparecimento de pontos brancos pelo corpo do animal, muito provavelmente você está olhando para um peixe com íctio.
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O ictio em peixes tem como principal característica o aparecimento de pontos brancos por qualquer parte do corpo do animal, porém a incidência é maior nas nadadeiras. É uma doença potencialmente fatal e causada por um protozoário chamado Ichthyophthirius. A boa notícia, é que das doenças que afligem os peixes ornamentais, essa é uma das mais fáceis de tratar, caso seja notada na sua fase inicial.
Existem muitas formas de tratamento e uma abordagem completa, atacando o problema de vários lados é a maneira mais eficiente de acabar com o íctio. Mas para isso, precisamos entender mais sobre a doença, seus sintomas e causas.
O que é o Íctio
É uma doença causa por protozoários, considerada uma das enfermidades mais comuns entre os peixes ornamentais. Apesar de não ser muito grave, sua incidência é tão grande, que provavelmente é uma das maiores causas de morte de peixes em aquário, principalmente em regiões de clima frio ou com grande variações de temperatura.
O agente causador da doença é o protozoário Ichthyophthirius multifiliis, é um parasita muito comum em peixes de água doce. Na aquicultura, existem até técnicas para aumentar a imunidade a esse parasita, como consta nessa publicação da Universidade Federal de Santa Catarina. A incidência dele é tão alta, que muitos especialistas acreditam que a maior parte dos aquários e lagos têm ou já tiveram exemplares do protozoário. Mas para que de fato ocorra uma infecção é preciso que o sistema imunológico do peixe perca a batalha contra esse parasita.
Principais causas do íctio
Como explicado anteriormente, esse parasita é tão difundido que a maior parte dos peixes têm uma resposta imunológica bem eficiente contra ele. Mas em momentos onde o sistema de defesa do peixe está prejudicado, caso tenhamos o protozoário na água, pode ser que ocorra uma infecção.
Então a causa dessa doença está ligada a dois fatores principais: introdução do Ichthyophthirius multifiliis no aquário e problemas na imunidade dos peixes.
Na maior parte dos casos, o parasita é introduzido no aquário ao se adicionar algum animal, rocha, peça de decoração ou qualquer outro corpo que esteja infectado com o protozoário.
Com o parasita já no aquário, qualquer queda na imunidade dos peixes pode causar uma infecção. Dentre os principais fatores que podem ocasionar essa vulnerabilidade nos animais, estão:
- Transporte e manuseio dos peixes: Esse é um dos momentos onde os peixes estão mais fragilizados. Seja uma grande viagem, como nos casos de peixes enviados por encomenda, ou seja um pequeno deslocamento entre a loja e sua casa, movimentações como essas deixam os peixes muito estressados e com a imunidade abalada. Justamente por isso, é preciso ser muito cuidadoso com a ambientação de novos habitantes em um aquário. Quanto menos traumático for esse processo, menos a saúde do seu peixe sofre.
- Manutenção precária: Um aquário sujo é um aquário doente. Altos índices de amônia ou nitritos acabam com a saúde de qualquer peixe, além de favorecer a proliferação de bactérias e funfos prejudiciais aos animais. Com tudo isso, não é nenhuma surpresa que o sistema imunológico falhe no combate ao íctio.
- Oscilações de temperatura: Mudanças nos parâmetros das águas sempre afetam muito os peixes. Dentre esses fatores, mudanças de temperatura são um dos principais. Por isso é importante ter um termostato ligado, regulando a temperatura da água. Isso é especialmente necessário em regiões onde a temperatura varia intensamente ao longo do dia.
- Superlotação: Peixes precisam de espaço para viver, um aquário com mais peixes do que o indicado estará causando um estresse gigantesco nos seus habitantes. Além disso, aquários superlotados produzem muito mais sujeira e detritos, gerando rapidamente uma poluição inaceitável no aquário.
- Alimentação inadequada: Muitos aquaristas economizam na hora de comprar rações para seus peixes. Mas este custo na verdade é um investimento. Peixes com alimentação saudável são mais bonitos e mais resistentes a doenças e parasitas. Uma boa ração, combinada com alimentos vivos pelo menos uma vez na semana, garantem ao seu peixe tudo que ele precisa para se desenvolver com saúde.
Quais os sintomas do íctio
Todo aquarista experiente está familiarizado com o principal sintoma do íctio. Aqueles pontos espelhados pelo corpo do animal tiram o sono de qualquer um. Mas este não é o único sinal, então vamos abordar agora todo os principais sintomas dessa doença:
- Pontos brancos pelo corpo: É o sintoma mais comum e característico da doença. No início, os pontos podem ser transparentes ou avermelhados, mas com o tempo, se tornam brancos. Estes pontos que parecem com pequenos grãos de açúcar, são na verdade os parasitas que se prendem ao corpo do animal. Quando se instalam nas branquias, eles podem inclusive prejudicar a respiração do peixe infectado.
- Peixe se esfregando em rochas, troncos…: Devido a infecção pelos protozoários, a pele do peixe pode se tornar extremamente irritada e apresentar coceira. Então é comum que peixes afetados se esfreguem no substrato, rochas ou qualquer outro objeto disponível, afim de tentar amenizar o desconforto que os parasitas causam.
- Agitação: Em um momento inicial, o desconforto também pode causar agitação no peixe, que nada freneticamente no aquário.
- Perda de apetite: Com a progressão do quadro, o apetite é afetado. O peixe pode diminuir seu consumo normal e até mesmo parar completamente de comer.
- Letargia: A medida que o caso se torna mais avançado, o peixe fica tão debilitado, que pode parecer já está até morto. Esse comportamento desanimado, quase completamente parado é um grande sinal de que a doença está muito avançada.
- Problemas na respiração: Devido aos danos que o parasita podem causar nas branquias e outras estruturas do sistema respiratório, o peixe pode apresentar dificuldade extrema para respirar,
O ciclo do íctio
O parasita Ichthyophthirius multifiliis tem um ciclo de vida único da espécie, baseado em fases. Saber mais sobre esse ciclo, ajuda a entender o desenvolvimento da doença no aquário e também mostra quando o parasita está mais vulnerável para o tratamento.
No primeiro momento, o parasita adulto (chamdo de Trofozóito nessa fase) infecta o peixe, se instalando na pele do animal. Ali ele se instala e causa pequena lesões invisíveis ao olho humano. Essas lesões o colocam em contato com o sistema imunológico do animal, que isola o parasita em um cisto. Nessa fase, o protozoário é muito resistente ao uso de remédios, devido ao bloqueio causado pelo cisto.
Após se alimentar e amadurecer, a nova fase começa. O parasita se solta do animal (nessa fase o parasita se chama Tomonte), atravessa o cisto e fica livre outra vez, se deslocando para o fundo do aquário, onde ele se reproduz, gerando milhares de novos parasitas (esses novos parasitas se chamam Tomite). Estes ficam livres pela água, procurando novos hospedeiros para reiniciar o ciclo (quando os parasitas estão procurando novos hospedeiros, eles se chamam Teronte).
A duração de todo o ciclo depende muito da temperatura do aquário. Em aquários com temperaturas mais altas, todo o processo pode durar 4 dias, já em temperaturas baixas, podem durar semanas.
Qual o tratamento para íctio
Existem várias abordagens no tratamento da doença, algumas mais naturais, outras mais químicas. Uma combinação desses tratamentos pode ser a forma mais eficiente de agir. Mas é preciso ter bom senso para não exagerar e prejudicar seus peixes e a biologia do aquário. Além disso, é preciso remover qualquer carbono filtrado/purigen do aquário durante o tratamento. As abordagens recomendadas para o tratamento são:
- Aumente de temperatura do aquário: Primeiramente, após notar o aparecimento do Íctio no seu aquário, aumente gradualmente (2 graus por dia) a temperatura até 30 ou 31 graus Celsius (respeitando o limite dos seus peixes, é claro). E mantenha nessa temperatura por pelo menos mais 18 dias, após os pontos brancos sumirem. O aumento da temperatura é obrigatório e nunca deve ser evitado no tratamento, sem isso, qualquer outra abordagem será ineficiente.
Como dito anteriormente, o calor acelera o ciclo do íctio, fazendo com que o protozoário fique na sua forma livre (Tomonte) mais rapidamente. Após o parasita estar na água de forma livre, a fase mais suscetível ao tratamento é a fase teronte, quando o protozoário se multiplicou e está livre procurando um novo hospedeiro.
A temperatura alta, também atrapalha o ciclo de reprodução do animal, então algumas vezes apenas o aumento de temperatura já pode acabar com a doença. - Aplicação de sal marinho ou sal sem iodo: A maior parte das variedades do íctio não resiste a uma salinidade de 1ppt, que seria equivalente a 1 grama por litro de água. No geral, é recomendado o uso de 2 gramas por litro para o tratamento do íctio, mas é preciso lembrar que algumas espécies, não suportam nenhuma salinidade no aquário (como coridoras e cascudos), portanto o uso desse método em aquários com esses animais, pode gerar consequências negativas para seus peixes.
- Remédio para íctio: Também podem ser utilizados tratamentos químicos para a doença em conjunto com o aumento da temperatura. Nesse caso, deve se procurar remédios específicos para o íctio (ou protozoários em geral) em lojas de aquário e veterinários. No Brasil, um dos mais famosos é o Labcon Ictio. Siga perfeitamente as instruções do remédio, já que não se deve parar o tratamento no momento que os pontos brancos somem. É justamente quando eles se desprendem do peixe, que o tratamento se torna mais eficaz.
Como desinfectar aquário com íctio, em caso de perda total dos peixes:
Se o pior aconteceu e você já perdeu seus peixes, antes de conseguir fazer o tratamento, é importante não comprar novos habitantes, antes de ter certeza que o surto no seu aquário já acabou. Porque como foi explicado acima sobre o ciclo do íctio, ainda que o parasita não esteja mais nos peixes, ainda pode estar na sua forma livre, nadando pelo aquário.
Em teoria, apenas deixar o aquário funcionando (filtro e termostato ligados), sem habitantes e com a temperatura em 31 graus Celsius por 18 dias, já é suficiente para eliminar o íctio, já que sem hospedeiros, os protozoários acabam morrendo.
Mas se você quiser ser extra cauteloso, pode também aplicar o remédio para íctio de acordo com as instruções do fabricante, afim de garantir que não restá nenhuma chance de reincidência. No entanto, lembre de que o tempo de espera é o fator mais importante para que os parasitas morram sem hospedeiros.
Como prevenir o aparecimento do íctio
As recomendações para evitar o aparecimento (e reaparecimento) do íctio são as mesmas de qualquer doença. Já que envolvem duas preocupações básicas. Precisamos prevenir a entrada do agente causador no aquário, fazendo tratamento de qualquer ser vivo ou objeto que visamos acrescentar. E também temos que manter a imunidade dos peixes altas, para que consigam lutar contra qualquer enfermidade que possa entrar em contato com eles.
Primeiro, sempre deixe seus novos peixes em um aquário quarentena, antes de adicioná-los ao aquário principal. Um período de duas semanas costuma ser suficiente para garantir que ele não está trazendo nenhuma doença para seus outros animais. Portanto, caso ainda não tenha um aquário quarentena, é uma providência essencial e evita muita dor de cabeça a longo prazo.
Tratar plantas novas também é uma ótima precaução. Muitos parasitas podem se depositar nas plantas e com isso acabar entrando no seu aquário e atacando seus peixes. Isso também evita surtos de caramujos e outros habitantes que não foram adquiridos intencionalmente.
Outro fator importante é manter a qualidade dos parametros do seu aquário. Ou seja, mantenha a temperatura estável, ph sem muitas variações e níveis de nitrito e amônia zerados. Uma alimentação saudável também faz muito pelo sistema imunológico do seu peixe. Além disso, mantenha uma rotina disciplinada de TPAs (trocas parciais de água): uma vez por semana, ou no máximo duas.
Seguindo essas recomendações, você estará prevenindo o aparecimento do íctio e ao mesmo tempo deixando seus peixes mais resistentes a qualquer outra infecção ou enfermidade.